Quantas pessoas já espiaram

terça-feira, 26 de julho de 2011

SEM PASSADO, SEM PRESENTE


Sevy Falcão

ImageAs danças estrangeiras tiveram uma influência de fundamental importância na Música Popular Brasileira. No primeiro meado do século XIX, foram introduzidas no Brasil a quadrilha, uma contradança de origem inglesa, a valsa e a polca que se originaram na Boêmia. (Império Austríaco). O schottisch ou xóte, dança de salão de origem centroeuropeia, também conhecida como polca alemã. O tango nasceu na Argentina, também no final do mesmo século, resultado da mistura de vários ritmos dos bairros de Buenos Ayres. A habanera, dança de origem cubana que foi criada provavelmente no século XVII, levada de Cuba para os salões da Europa e do Brasil. A mazurca, dança que nasceu do folclore polaco na primeira metade do século XVI, muito utilizada no período romântico de Frederic Chopin.

Os nossos ritmos e todas as formas vivas de manifestações musicais, assim como as quadrilhas, o choro, o maxixe, o tango brasileiro e a modinha tiveram origem nas músicas citadas. Foi a partir dessa universalidade musical que pontificou no Brasil uma grande safra de bons compositores, a exemplo de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho), Freire Junior, Eduardo Souto, Leopoldo Fróes, o grande Ernesto Nazareth, Joubert de Carvalho, Anacleto de Medeiros, Patápio Silva, Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, João Pernambuco e tantos outros esquecidos por uma mídia que não tem interesse em difundir cultura. 

O mais intrigante da música brasileira é ela continuar inacessível ao grande público consumidor, ao ouvinte. Existe em relação a musica o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMUB), uma Organização Não Governamental pouco conhecida, sem fins lucrativos, sediada no Rio de Janeiro, voltada para pesquisa, preservação e divulgação da Música Popular Brasileira. Entretanto, vejo com muito ceticismo o nosso acervo musical transformado em museu virtual. A nossa música não é para ser transformada em arquivo morto e sim para ser divulgada. Ela não é objeto do passado porque é atemporal. A música de qualidade não tem prazo de validade porque é eterna. É a única coisa que permanece indefinidamente no tempo e no espaço.

Eu acredito que o mais importante do que guardar um acervo musical utilizando as ferramentas da web é fazer chegar aos ouvidos do povo. Essa riqueza musical engloba 120 anos que se inicia no final do século XIX com a belle époque, que viveu seu período áureo até 1922, com o advento da Semana de Arte Moderna. Naquela época, a atividade musical era intensa e a linha editorial chegava a editar 20 mil partituras por ano. O time de compositores era formado ainda por Joaquim Antônio Calado, Chiquinha Gonzaga, Luciano Gallet, Glauco Velásquez, Francisco Braga, Francisco Mingnone, Henrique Oswald, Antônio Carlos Gomes, Emílio Lago, Américo Jacomino, Heitor Villa-Lobos, Zequinha de Abreu e muitos outros. 

Nos paises culturalmente desenvolvidos, todos os ícones das artes, principalmente da arte musical são cultuados, venerados e suas obras sempre permanecem atuais. Um país que não preserva o passado, não tem história no presente e jamais terá perspectivas para o futuro. A ignorância e a má fé estão deixando o Brasil na mais profunda miséria cultural. Os meus contestadores batem numa tecla desafinada sobre o gosto musical e a democracia. Eu pergunto: não será a mídia que rompe os elos dessa cadeia democrática? Senão, vejamos: quem é que toca o lixo musical 24 horas por dia e sem oferecer alternativa ao ouvinte? Isso é democracia? Não, meus caros leitores. Isso é ditadura, ou melhor, absolutismo sonoro! Como um povo vai poder escolher democraticamente uma música que nunca ouviu? Isso é conversa mole pra boi dormir!

“Música é vida interior... E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”... Arthur da Távola